Invisibilidade
Sinto como se eu não importasse, como se ninguém me enxergasse e não fizesse a menor diferença, se eu desaparecesse, não haveria ninguém para perceber, questionar, se preocupar. É como se todos os dias eu acordasse esperando que algo acontecesse e mudasse tudo, esperando que algo ou alguém me tire desse ciclo de existir sem ter a menor importância. Quando a noite chega e tudo é igual, eu morro um pouquinho.
Às vezes, me sinto invisível ou camuflável, como se o mundo e a vida de todos acontecessem ao meu redor, todos em minha volta e ninguém me percebe. Como se fosse muda e falasse sem que ninguém pudesse de verdade me ouvir. Enquanto tudo isso acontece, observo, rezando para que esteja errada. Não importa quantas palavras eu use, nunca parece suficiente para explicar o quanto me sinto invisível.
Minha invisibilidade não parece durar para sempre, ela sempre deixa de existir quando alguém precisa se satisfazer...seja a carência, sexualmente ou quando alguém precisa de um afago, um amparo. Nunca me esqueço de quantas vezes eu ouvi “você é tão boa, com certeza vai achar alguém, não vai ser eu, mas com certeza vai encontrar alguém”, depois de estar lá para alguma pessoa. É ridícula a sensação de ser boa, mas nunca ser o suficiente, ser boa, mas não servir. E eu sempre me pergunto onde errei, o que está errado, o que está faltando. Será que ser invisível é minha culpa?
Procuro desesperadamente, no meu celular, em minhas notificações, sinais de que alguém se importa. É tudo tão sozinho, e essa solidão parece tão imensurável, não consigo expressar em palavras, mas ela devora. Ser devorada todos os dias pela solidão traz uma terrível sensação de se perder, se perder no meio do nada...é como o medo de se perder da mãe no mercado, mas de repente, não tem mãe, nunca teve e ninguém vai te salvar no final, isso ecoa em minha cabeça, e dói.
Me questiono todos os dias se não sou o suficiente, se é mesmo culpa minha, se eu preciso mesmo viver, se ninguém quer me ver, se ninguém vai me ver. Algumas noites simplesmente aceito que as coisas são como são, mas elas não deixam de me incomodar. Em outras, sinto que vou morrer se ninguém me tocar, se ninguém olhar nos meus olhos, se ninguém me escutar, e em nenhuma noite isso acontece. Chorar parece ser a única forma de amenizar o pânico de ser invisível.
Às vezes me pergunto se não sou digna de amor, já que minha mãe não me quis, meu pai desapareceu quando soube que eu iria existir, e eu sobrei. E desde então, nunca senti que deixei de sobrar, quando tudo que eu queria era pertencer.
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